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Foto do escritorAlexandre Pilati

[laço]


COSMOPOLITA Adriana Cangalaya

Por que demoraste tanto para decifrar o enigma de que um livro nasce de um laço com o mundo? O livro, agora sabes, é a prova incontestável de que se abraçam numa mesma história o escrito e o vivido. Por mais óbvio que pareça, esse pressuposto te leva a considerações sobre o distintivo do literário enquanto “reflexo da realidade”. A literatura põe em outro plano de relação os elementos da realidade. Ela não nega tais elementos, não os cancela. Ao contrário torna evidente os não evidentes laços com a realidade.


Quando lês literatura, encontras a oportunidade de recompor esse laço e um sem número de planos da realidade se reorganizam num âmbito que está submetido a outra lógica; a lógica das “leis da beleza”. Concebes a leitura literária como algo teu e dos outros; portanto, algo que, longe de ser escapismo, é ato de recomposição do laço do leitor com a realidade.


A leitura literária faz sentido para ti como enquanto projeta o cancelamento de um laço falso com a realidade, um laço remete apenas à aparência da realidade. A leitura literária leva-te à descoberta de laços essenciais entre o que vives como indivíduo e o que vive a humanidade, nas tensões entre a história e o destino, entre o que é causal e o que é casual, entre o que é utópico e o que é concreto.


Muitas vezes, quando leste, levantaste os olhos e enxergaste para além das páginas escritas. Estavas, nesses momentos, descobrindo horizontes íntimos e coletivos do laço metafisicamente físico entre livro e mundo. Então, voltavas ao livro e ao mundo transformados; enlaçados também, de uma outra forma, ao real. E eras já um outro.

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